sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Muda Vitória?!


Fabíola dos Santos Cerqueira
Mestre em Educação

Diante do que foi publicado no jornal A Tribuna do dia 12 de dezembro de 2012, anunciando que a Câmara de Vereadores de Vitória aumentou em 25,19% o salário do prefeito, do vice e dos secretários municipais para o ano de 2013, só podemos acreditar que o lema de campanha do prefeito eleito está se consolidando. Esperamos que isso se reflita nos salários dos professores, pois a justificativa para o aumento é semelhante ao que temos vivenciado na educação, onde perdemos profissionais para outros municípios cuja remuneração é mais atraente.

Esperamos que o prefeito eleito seja tão sensível à educação quanto os vereadores foram em relação ao novo quadro de secretários do município, pois se queremos um alto escalão de qualidade (e isso perpassa pelo salário) como deixou transparecer, acreditamos que a EDUCAÇÃO DE QUALIDADE TAMBÉM DEVE PERPASSAR POR SALÁRIOS DIGNOS AOS PROFESSORES.

Anualmente a luta dos professores tem sido pela reposição da inflação e aumento real dos salários e a justificativa é a dificuldade financeira do município para honrar com os compromissos de campanha. Os professores fizeram greve na gestão Coser reivindicando melhores condições de trabalho. Iam às ruas protestar e mostrar à população as dificuldades encontradas nas escolas e também em relação à falta de professores. Víamos a publicação da nomeação dos profissionais e mesmo assim, as vagas não eram preenchidas, pois os salários não eram/são atraentes.

Mas bastou um indicativo de que havia dificuldade para montar a equipe de governo, tendo em vista a competição com as instituições privadas que pagam mais (isso também publicado em jornal A Tribuna), para que os vereadores se articulassem e aprovassem o aumento de salário do alto escalão.

Como profissional da educação meu sentimento é de indignação, pois a cada ano perco poder de compra, vejo a desvalorização do meu salário e o desrespeito com a minha categoria.

Que a mudança proclamada pelo prefeito eleito do município de Vitória, contemple a educação e seus profissionais. Que valorize nosso salário para que não haja mais falta de professores nesse município (onde uma vaga já foi tão cobiçada) por oferecer salários menores que dos outros municípios da Grande Vitória. Que os discursos sejam colocados em prática e que não se tornem apenas anestésicos para aplacar a indignação que sentimos diante do descaso com que os profissionais da educação tem sido tratados neste município.

Muda Vitória!!!

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

POR ONDE ANDA O VERDADEIRO ESPÍRITO DO NATAL?

Fabíola dos Santos Cerqueira
Mestre em Educação

O natal é uma data religiosa, onde celebramos o nascimento de Jesus Cristo. No entanto, as propagandas televisivas nos fazem esquecer o real sentido dessa data e nos levam a pensar nos presentes, nas mesas fartas, nas bebidas, enfim, nas festas que de religiosas não tem nada. A reunião familiar em torno da alegria do nascimento de Cristo fica escondida nos anseios por detrás das trocas de presentes, sobretudo, entre as crianças.

Sensibilizada com a campanha dos Correios, fui adotar algumas cartinhas e ao lê-las, fui percebendo que as crianças expunham apenas seu desejo de consumir produtos cada vez mais caros, como computadores, vídeos games, bicicletas, celulares, tablets, enfim, toda essa tecnologia que faz a alegria da criançada. Não havia menção ao sentido do Natal apenas apelo para que o Papai Noel, pudesse atender seus apelos consumistas.

A crença no bom velhinho (materialização do capitalismo), faz com que as pessoas se esqueçam do verdadeiro espírito de Natal e transformem este momento de reflexão e de oração em mais uma festa. As lojas ficam abarrotadas e os comerciais de TV nos fazem crer que esta data se processa da mesma forma em todas as famílias, que todas as crianças irão receber presentes, que todas as mesas são fartas. É difícil imaginar que ao mesmo tempo em que há mesas repletas de comida e bebida, existam tantas pessoas no mundo (e às vezes tão próximas de nós) desprovidas do básico para viver.

A televisão é um meio de comunicação que influencia os hábitos das crianças e, contribui, para a construção de necessidades, tanto dos pequenos, quanto dos adultos. Passamos a ver a felicidade do Natal atribuída à possibilidade de consumo. Na lógica neoliberal, aliás, cidadão é aquele que consome. Aqueles que não podem consumir, a partir dessa lógica, são colocados à margem, pois é o consumo que sustenta o capitalismo.

Como é difícil educar um filho neste mundo, onde a todo o instante o apelo do consumo, da cultura do ter, em detrimento do ser, se faz presente. Um mundo vazio de amor, de perdão, de solidariedade, mas repleto de ganância, de individualismo e de intolerância.

Com a proximidade do Natal percebemos também que as pessoas tornam-se mais sensíveis ao sofrimento alheio. É comum, nesta época, os orfanatos e asilos receberem muitas doações e visitas. Não sou contra às doações nem às visitas, mas penso que deveríamos ser sensíveis mais vezes ao ano. A solidariedade significa ruptura com a lógica neoliberal e a redistribuição das riquezas, com o intuito de diminuir as desigualdades sociais. Infelizmente, confundimos solidariedade com caridade e doamos o que nos sobra, mais como uma satisfação pessoal ou para expiar nossos pecados do que uma preocupação com o outro.

Hoje, escravos do tempo e da tecnologia (abolimos as correntes, mas somos monitorados pelo celular), não nos damos conta de que a vida é mais que acúmulo de bens materiais... é mais que trabalho, é mais que dinheiro. Quantos de nós cultivamos o hábito de ler para/com os filhos? Quantos de nós dedicamos parte do tempo para brincar com os filhos, contar piadas, olhar as estrelas, admirar o nascer e o por do sol?

Que neste Natal, além dos presentes e da ceia, haja espaço para agradecimento, perdão, amor, solidariedade, fé e reflexão.

Texto publicado no Jornal A Tribuna, na coluna Tribuna Livre, de 21 de dezembro de 2012.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

NOTA DE DESAGRAVO - PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA


Vimos a público lastimar o incidente ocorrido nas dependências do Museu Capixaba do Negro, na data de 05 de dezembro corrente, no momento em que se realizava o evento “Educar para a Igualdade Racial”, promovido pela Comissão de Estudos Afro-Brasileiros da Secretaria Municipal de Educação, quando fomos surpreendidos com a atitude desrespeitosa e inesperada de policiais militares adentrando o recinto do MUCANE e ameaçando a retirada de nossos alunos em situação de rua matriculados na modalidade de Educação de Jovens e Adultos, em função dos “perigos” que representavam pela aparência não convencional.

Temos atuado veementemente no combate a quaisquer formas de discriminação, preconceito e exclusão e tal fato manifesta o quanto nossas instituições precisam se constituir como defensoras e propagadoras da afirmação do direito e da cidadania para todos e para todas, sem distinção de classe social, cor, raça, religião e gênero.

Não cabe em um Estado de Direito atitudes que venham na contramão de nossas lutas e história em torno da garantia dos direitos políticos e sociais pois incidentes como este não só promovem a indignação da sociedade mas dizem muito o quanto faz-se necessário construir parâmetros públicos que balizem a nossa existência numa cidade e num Estado que se pretende democrático e presente na dinâmica da sociedade.

Vitória, 06 de dezembro de 2012.


Secretaria Municipal de Educação
Comissão de Estudos Afro-brasileiros
EMEF EJA “Admardo Serafim de Oliveira”
Secretaria Municipal de Cultura
Museu Capixaba do Negro
Secretaria Municipal de Cidadania e Direitos Humanos

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Estudantes em situação de rua impedidos de entrar no MUCANE-Museu do Negro por vigilante e PM

A EMEF EJA ADMARDO SERAFIM DE OLIVEIRA ESTÁ COM VERGONHA E PEDE DESCULPAS AOS SEUS ESTUDANTES EM SITUAÇÃO DE RUA

“Não é que eu vou fazer igual, eu vou fazer pior!” (Titãs)

Hoje nos sentimos envergonhados!Envergonhados por fazer parte de uma rede cujo parte considerável dos profissionais da educação sã...o tão racistas e classistas. Envergonhados com a repetição das práticas de racismo nos diferentes órgãos públicos de nosso Estado. Envergonhados por sermos servidores de um Município, que com a ajuda da Polícia Militar do Estado do Espírito Santo trata a população de rua a base de porrada, jato d'agua e sabão em pó. Sentimos vergonha de sermos munícipes de uma Capital em que negros e pobres não acessam os espaços públicos, pois são impedidos com práticas sutis, mas extremamente eficientes de frequentarem e permanecerem nas Unidades de Saúde, nos teatros, nas escolas, nas feiras , nas exposições, nos museus e outros.

E por falar dos museus, cabe destacar que nossa motivação na escrita deste texto foi justamente um fato ocorrido hoje, 05 de novembro de 2012, no Museu Capixaba do Negro. Fato este que explicitou o quanto ainda temos que lutar, em cada segundo e espaço de nossa vida, contra as diferentes formas de violência sofrida pelas camadas populares de nosso País.

Pela manhã, a EMEF EJA Admardo Serafim de Oliveira estava orgulhosa por ser selecionada para receber a Homenagem Olga Maria Borges. Para quem não sabe, esta importante homenagem é concedida pela Secretaria Municipal de Educação às Escolas que desenvolveram práticas de educação antirracista e que buscam em seu cotidiano implementar a Lei 10 639/2003.

Com dois anos de história, nossa Escola tem se dedicado em pautar nas suas práticas pedagógicas a necessidade de repensarmos nossas atitudes racistas, homofóbicas, sexistas e fundamentalmente classistas. Por este motivo é que esta homenagem representava algo muito importante para o coletivo docente e fundamentalmente para os nossos educandos.

Com o objetivo de socializar nosso trabalho e nossa alegria, confeccionamos uma “linda” instalação com trabalhos dos(as) educandos(as), com fotos, pinturas e esculturas. Ao entrar na instalação, qualquer pessoa perceberia uma vibração, resultante de um trabalho articulado e coletivo.

Para celebrar este resultado escolhemos duas turmas para visitação. A primeira composta majoritariamente por senhoras idosas, que estudam no CRAS de Andorinhas. A segunda composta por pessoas em situação de rua, estudantes matriculados que estudam no CREAS POP, localizado no Bairro Mario Cypreste.

Os estudantes chegaram ao espaço em carro oficial e acompanhados por professores da Escola. Após passarem pelas exposições, apenas os estudantes do CREAS POP foram abordados por dois policiais militares de forma violenta que afirmaram que os mesmos não poderiam permanecer no local. Ao perceber o que estava acontecendo, a Direção e demais profissionais da Escola foram até os policiais e indagaram acerca do ocorrido. Os mesmos informaram que receberam um chamado da vigilância do Museu e por isto resolveram “abordar” os possíveis “infratores”. Segundo o vigilante, os estudantes estavam descalços e olhavam de forma diferente para sua arma. Afirmou também que sua ação foi chamar a Guarda Municipal e que esta sim, chamou a Polícia Militar.

A posição da EMEF EJA Admardo foi imediata! Após demarcar publicamente nossa indignação caminhamos em marcha até o CREAS POP e lá a Direção da Unidade juntamente com os professores, pediu desculpas formais aos estudantes e reafirmando, que custe o que custar, nossa luta pela garantia dos direitos constitucionais vai continuar. Estaremos mais fortes do que nunca! Não faremos igual, faremos pior! Não descansaremos! Vamos marchar, nos mobilizar, denunciar e gritar para o mundo inteiro ouvir: TEMOS O DIREITO DE SER RESPEITADOS!

Sinceramente, o nó na garganta ainda não passou. Esperávamos uma pequena reação inicial por parte das pessoas, pois já passamos por situações constrangedoras em alguns espaços visitados com nossos estudantes. Porém, não imaginávamos que um episódio tão desrespeitoso pudesse acontecer em nossa casa. Nossa triplamente casa! Triplamente pois estávamos em um espaço público, em uma atividade da educação e no Museu do Negro.

Será que o Museu do Negro se relaciona com os negros que não são intelectuais ou militantes? Será que o Museu do Negro se identifica com a população de rua, majoritariamente negra? Não sabemos! Ou sabemos e não temos ainda coragem de dizer?

Finalizamos reafirmando nosso compromisso e disposição para a luta.

Com muita vergonha nos despedimos,


Carlos Fabian de Carvalho

Direção da EMEF EJA Admardo Serafim de Oliveira
Vitória, 05 de dezembro de 2012

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Os adolescentes e o ato infracional


 
Fabíola dos Santos Cerqueira
Mestre em Educação (PPGE/UFES)


De acordo com a Lei 8069, de 13 de julho de 1990, que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECRIAD, considera-se adolescente toda pessoa com idade entre 12 e 17 anos. Os atos infracionais são definidos pela lei já citada como uma conduta análoga a um crime ou contravenção penal previsto no Código Penal Brasileiro. No Brasil, ao adolescente autor de ato infracional é aplicado uma medida socioeducativa, prevista no artigo 112 do ECRIAD, que vai desde uma advertência verbal até a internação compulsória numa unidade educacional. Esta medida só pode ser aplicada pelo judiciário.

Quando a medida socioeducativa aplicada é a Liberdade Assistida Comunitária esse adolescente é encaminhado a um serviço de acompanhamento (presente em alguns municípios), onde é recebido por uma equipe que trabalha com esse adolescente na perspectiva de reconstruir os laços rompidos com a família, com a escola e com a comunidade a qual eles fazem parte. Infelizmente, nem todos os municípios possuem esse serviço e os que possuem estão falhando, conforme apontado pela juíza Drª Janete Pantaleão, na reportagem especial do jornal A Tribunal do dia 12 de novembro de 2012. Na há investimento em políticas públicas na área social. Faltam projetos adequados, falta ouvirem os adolescentes, faltam profissionais qualificados, falta integração com outras instituições como a escola e a família, por exemplo.

A escola não quer esse adolescente infrator (um dos condicionantes para que ele não retorne à internação é estar matriculado e frequentando uma escola). O enxerga como um marginal em potencial. É a “maçã podre” que pode contaminar os outros. Desconsidera pessoas podem mudar desde que se aposte ou que se invista nelas. A sociedade também não o quer, principalmente, porque a maioria desses adolescentes são das classes populares, invisíveis aos olhos da elite que só os enxergam através do medo.

Não há políticas públicas que deem conta de pensar com esses adolescentes o porquê dos atos infracionais, quais as suas possibilidades de escolha na vida, sobre seus sonhos, projetos de futuro e talento. São relegados à própria sorte. Os que se enquadram na “causalidade do provável”, de Pierre Bourdieu estão à salvo. Aos outros, a sorte apenas. A elite quer higienizar as ruas, as escolas e impedir que os pobres, sobretudo os que os ameaçam circulem livremente. Os que podem circular são apenas os que servem de “cabeça baixa” ao sistema explorador capitalista. Estes tem lugar garantido “nas senzalas modernas” e viajam às “casas grandes” através dos “navios negreiros da modernidade”, pagando caro para fazer a viagem a pé e amontoado.

Não me refiro aqui apenas à elite econômica, mas, sobretudo, aos que tem a alma burguesa. Aqueles que estão excluídos do capital econômico, mas vivem a partir do habitus da classe dominante, se comportam como eles, apesar de pertencerem, economicamente, à classe social que querem eliminar simbolicamente. Enquanto isso, as estatísticas vão apontando que mais adolescentes são cooptados pelo tráfico, morrem antes de viver... mas não nos importamos, pois estamos cercados nos nossos condomínios de luxo, onde além de dormir, podemos também nos divertir com as amplas áreas de lazer.

Publicado no Jornal A Tribuna, na Coluna Tribuna Livre, em 23 de novembro de 2012

domingo, 11 de novembro de 2012

À PROCURA DA FELICIDADE

Fabíola dos Santos Cerqueira

No dia 05 de setembro de 2012, na coluna Tribuna Livre, do jornal A Tribuna, escrevi um texto, “Quanto custa não estar na forma?”, abordando questões relativas à anorexia nervosa e ao descaso e desconhecimento da rede pública e privada das políticas públicas de saúde em relação ao tratamento de adolescentes vítimas dessa enfermidade, considerada um dos transtornos mentais com maior índice de mortalidade, segundo as referências médicas consultadas. Mas infelizmente as instituições de saúde não são o único desafio que temos a vencer. O preconceito vem na frente. O sujeito vítima dessa enfermidade é considerado “fresco”, “fraco” e muitos se afastam dos doentes com medo de serem influenciados pelos mesmos.

E isso acontece também na escola. Um lugar em que deixamos nossos filhos e depositamos ali a esperança de que sejam felizes.

“Um lugar onde se faz amigos”, segundo Paulo Freire, como não ser feliz?

E há diversas formas de não ser feliz neste espaço quando se é vítima da anorexia nervosa: quando todos sabem nossa doença e nos tratam com indiferença, com medo de serem influenciados; quando nos isolam; quando fazem chacota com a nossa situação e não entendem quando a tristeza “bate” sem motivos e choro vem a seguir.

Como profissional da educação, insisto que a escola (que não é uma ilha, mas está inserida na sociedade), deve também estar atenta a estas questões, a fim de evitar casos de bullying e de qualquer forma de exclusão (que pode se dar através de um olhar, de uma palavra sem intenção de ferir, por exemplo).

Mas vou ser mais direta. Assim que identificar a vítima, o(os) autor(es) e a plateia, a escola deve agir, reunindo todos e dialogando sobre a questão. Importante envolver as famílias, convidando profissionais de outras áreas para conversar sobre os problemas enfrentados e sobre as possibilidades de resolução dos conflitos.

Quando as crianças e adolescentes não conseguem mediar sozinhos seus conflitos, os adultos devem intervir. Seja na escola, seja na família.

Importante é não minimizar o sofrimento do outro. É não ignorar seu sentimento, pois isso pode agravar o quadro de depressão que acomete, por exemplo, os casos de anorexia de que estamos falando exatamente.

Numa escola assim, onde a palavra de ordem é colocar-se no lugar do outro, é enxergá-lo na sua singularidade, é acolhimento, é diálogo, a procura da felicidade se encerra, pois a mesma será imediatamente reconhecida.

sábado, 10 de novembro de 2012

Mariana Neri cantando...


Mariana, depois de ter passado por tantos obstáculos, resolveu buscar alternativas para viver mais e melhor. E encontrou na música inspiração. Cantando uma música da Demi Lovato ela fez o vídeo abaixo:

http://www.youtube.com/watch?v=rK3C-cNv2X0

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

E quando a vítima é o professor?

Fabíola dos Santos Cerqueira
Mestre em Educação (PPGE/UFES)


Há algum tempo venho estudando a problemática da violência no contexto escolar, abordando-a na perspectiva do estudante, preocupada com as relações de poder existentes naquele espaço. No entanto, nunca perdi de vista que as relações entre estudantes e professores poderiam se dar de formas desiguais tanto tendo o professor como elo “superior” quanto o aluno. Ou seja, ao mesmo tempo em que presenciamos estudantes sendo vítimas de violência por parte de professores cujas posturas são autoritárias e inflexíveis, temos também professores sendo vítimas de estudantes que utilizam da coação, da ameaça e da intimidação.

O professor, quando desrespeitado no exercício de sua profissão sente-se só, sendo que, em alguns momentos, é visto como causador de sua própria dor. É importante termos em vista que a violência não pode ser analisada de forma unilateral. Há que avaliar todos os lados e garantir atendimento/acolhimento para todos os envolvidos, quer sejam alunos, quer sejam professores.

Não estou aqui querendo reforçar posturas de vitimização do magistério. Entendo e defendo que os direitos das crianças e adolescentes sejam sempre respeitados. Mas não posso naturalizar os processos de violência que têm atingido professores e professoras.
Defendemos que num primeiro momento, deve-se tentar o diálogo com o aluno e sua família, com a mediação do gestor da unidade de ensino. Caso as agressões persistam (ameaças, agressões físicas, desacato), o professor tem o direito de: a) se for criança (menores de 12 anos), comunicar imediatamente ao Conselho Tutelar e aos responsáveis legais pela criança; b) se for adolescente (entre 12 e 17 anos), comunicar ao Conselho Tutelar, aos responsáveis legais e lavrar Boletim de Ocorrência na DEACLE – Delegacia do Adolescente em Conflito com a Lei; c) se adulto (a partir dos 18 anos), deverá acionar a Polícia Militar e lavrar Boletim de Ocorrência.

Em casos envolvendo assédio moral, agressões físicas ou verbais, ou outras formas de violência entre educadores ou entre estes e a família dos alunos, orientamos que a denúncia seja protocolada junto à Secretaria de Educação (estadual ou municipal), aos cuidados da Gerência em que o servidor estiver vinculado. Isso não inviabiliza denúncia junto ao sindicato ao qual o servidor for filiado ou mesmo, dependendo da gravidade, que Boletim de Ocorrência seja lavrado. Por fim, é importante frisar que nas questões que envolvem atos indisciplinares ou infracionais, os profissionais devem levar em consideração, na intervenção e nos encaminhamentos, a legislação em vigor, inclusive, o Regimento Interno ou o Regimento Comum da rede a qual fazem parte.

É preciso que tomemos consciência da gravidade do problema e que tanto os órgãos de defesa dos direitos das crianças e adolescentes quanto os sindicatos e as secretarias de educação se proponham a enfrentar esse problema e a buscar estratégias para efetivar uma educação de qualidade, que pressupõe o respeito aos sujeitos que estão na escola para aprender e ensinar; que pressupõe a valorização do magistério e a imposição de limites entre a família e a escola que devem ser parceiras, mas não podem impor uma à outra suas responsabilidades; que pressupõe a construção de uma cultura de paz que não significa eliminar os conflitos, mas solucioná-los por meio do diálogo.

Artigo publicado no jornal A Tribunal, do dia 23 de outubro de 2012.

E assim é a vida?

Fabíola dos Santos Cerqueira

Minha noite tinha tudo para terminar perfeita, pois hoje comemoramos o aniversário de 80 anos da minha avó, mas infelizmente, vivi uma situação que jamais imaginei viver ao tentar ajudar uma pessoa no meio da rua.

Estava indo para a casa da minha avó e passei na casa da minha tia, em Barcelona (Serra), quando me deparei, na esquina, um homem caído no chão que por pouco eu não atropelo. Desviei o carro, parei em frente a casa da minha tia e liguei para 192.

A atendente queria saber o que a pessoa tinha. Eu disse que não sabia. Que ele estava caído no chão, inconsciente a princípio. Disse que havia parado o carro longe do corpo e ela queria que fosse lá sacudir o moço para ver se ele reagia.

Me passou a ligação para a "doutora" que insistia que eu mexesse no corpo. Disse que se fosse cachaça ela não podia fazer nada. Fui até o corpo e lá estava um policial conversando com o homem que já não estava mais na rua.

Quando a médica ouviu a voz dele disse "que pela voz ele estava bêbado". Perguntei então: "Se for bebida não se pode fazer nada por ele?" Ela disse que não. O policial disse a mesma coisa. Tirou ele da rua e disse para ele ficar na calçada até melhorar e poder ir embora. Eu falei sobre o perigo dele ficar caído no meio da rua e o policial disse que se ele fosse atropelado aí sim o SAMU poderia ser acionado. Neste momento eu chorei. Se eu tivesse atropelado aquele homem eu iria para a delegacia ao invés do aniversário da minha avó, mas ele ia receber os mínimos cuidados de que necessitava, pois estava com o rosto todo ferido. Perguntei ao policial: se não é questão de saúde? Se não é questão de polícia, é questão de quê? E ele disse que se eu conhecesse a família dele podia pedir que fossem buscá-lo.

A "doutora" que fez o atendimento por telefone não quis se identificar, embora a primeira pergunta que eles fazem quando atendem o telefone no SAMU é o nosso nome. Isso ocorreu ontem, 23/10/2012, por volta das 18:30h.

O moço que estava caído é morador antigo de Barcelona. Já está naturalizado que o final dele será trágico...ninguém mais se importa. Ninguém mais vê. Ele é invisível aos olhos da saúde, da polícia e dos moradores daquela região.

Saí dali arrasada, chorando muito de dó daquele pobre ser humano...

E fui comemorar os 80 anos de minha linda avó, como se nada tivesse acontecido...porque assim é a vida.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

É MELHOR SER “ANOREXA” DO QUE SER “GORDA”?


Fabíola dos Santos Cerqueira
cso.especialista@yahoo.com.br

Nas minhas andanças pela cidade, sempre de ônibus, como não consigo ler (porque não consigo sentar), fico de “orelha em pé” nas conversas. E ouço cada coisa! Nem queiram saber.

Mas há uma história que não poderia deixar de contar. Era exatamente meio dia quando o ônibus parou diante de uma escola que enchia cada vez mais. Lá estava eu espremida, com uma sacola na mão e tendo que aguentar aqueles estudantes passando com suas mochilas nas costas, rindo e gritando alto.

O cobrador pedia silêncio, o motorista ficou bravo, mas eles não estavam nem aí. Iam se espremendo até que todo mundo entrou e conseguiu se encaixar. Com isso fui empurrada lá para o final do ônibus, onde duas adolescentes conversavam bastante animadas. Uma delas pediu para segurar minha sacola e eu prontamente agradeci e por ali mesmo fiquei e aproveitei para ouvir a história que ansiosamente quero dividir com vocês.


  • Amiga, você viu a roupa da Martinha na festa de sábado?
  • Vi sim. Que horror! Nunca vi tamanho mau gosto. Com aquele tamanho todo o mau gosto parece que fica maior.

As duas caíram na gargalhada e continuaram a conversa.

  • Ela disse que está fazendo dieta, você acredita?

  • Claro que não! Só se for para ficar mais gorda. No recreio ela não para de comer. Tá sempre mastigando (a menina falava e ria muito, eu quase não conseguia entender suas palavras).

  • E a Andressa, soube que ela está doente? Parece que é uma tal de anorexia. A pessoa fica sem comer até ficar bem magra. Dizem que pode até matar, já que o organismo fica desnutrido.
  •  Ah, sim, fiquei sabendo. Mas confesso que preferia ter essa anorexia do que ser gorda. O gordo é relaxado, é feio. Se tivesse anorexia pelo menos estaria bonita, bem magrinha, imagina?
  • Você já é magrinha! Mas já pensou que pode até matar se não for tratada?
  • E como se trata?
  • Li na Revista Capricho que o tratamento é longo e doloroso, pois muitas meninas entram em depressão, porque ficam magras mas se veem gordas ao se olhar no espelho. Se acham feias. Tem que ser feito com nutrólogo, psicólogo e psiquiatra. Não sei, acho que não preferia ter essa doença a ser gorda não. Acho que preferia ser do jeito que sou. Com saúde. Já parou para pensar no tanto de besteira que a gente tá falando? (disse com aquela cara, tipo, “caiu a ficha”!).
  • É, vendo por este lado você tem razão, concordou a amiga. Nas duas situações a pessoa deve sofrer porque somos muito preconceituosas. Tipo, temos preconceito com que está acima do peso e se for magro demais também vamos zoar. Quando chegar em casa vou pesquisar um pouco mais sobre essa tal de anorexia.

O ponto delas chegou e elas desceram. Agradeci por terem segurado a minha bolsa e elas sorriram. Duas meninas que deviam ter por volta de 13 ou 14 anos, bem magrinhas, com aparência saudáveis, mas cheias de preconceito. Eu sentei e fiquei refletindo sobre a conversa que ouvi. Estou acima do peso. Será que prefiro ser gorda ou anoréxica? Será mesmo que tenho que fazer essa escolha? Será que essa escolha é minha mesmo? Que sociedade é essa que determina tudo, inclusive o padrão de beleza: branco, pele clara, cabelos lisos, magro/sarado, alto. Tudo que foge ao padrão é excluído. Não há alguma coisa errada com essa sociedade? Uma sociedade onde as pessoas estão sempre insatisfeitas com seu corpo. Estão sempre buscando parecer arquétipos criados pelo show busines, num mundo onde quem não se entrega ao hambúrguer e ao fast food acaba correndo o risco de morrer de anorexia.

Foi em meio a toda essa reflexão que desci do ônibus atordoada para mais um dia de trabalho na escola...

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Quanto custa não estar na forma?


Fabíola dos Santos Cerqueira
Mestre em Educação (PPGE/UFES)

Em maio de 2010 defendi a dissertação de Mestrado intitulada “Juventude, violência simbólica e corpo: desvelando relações de poder no cotidiano escolar”. Na ocasião pretendia compreender as formas de violência simbólica entre jovens do Ensino Médio do Município de Vitória e seus comportamentos diante da pressão por um corpo perfeito e a influência desse padrão na sociabilidade juvenil e estudantil. Pude identificar que a pressão por estar “na forma” é evidente entre meninos e meninas, que desejavam ser sarados e magras, respectivamente. Queriam ser notados pelos seus corpos que insistiam em exibir enquanto os adultos insistiam em mantê-los encobertos, pelo menos no interior das escolas. Desconheciam os riscos das dietas milagrosas sem prescrição médica e chegaram a afirmar que entre ser “gorda” e “anoréxica”, o melhor seria a segunda opção. Caracterizavam a gordura corporal como desleixo, como falta de cuidado e de vontade própria, pois "quem queria, não era preguiçoso, tinha um corpo legal”.

Estou trazendo este recorte de minha dissertação objetivando denunciar e alertar a todos sobre os males e os riscos da anorexia nervosa, doença que só fui conhecer de verdade quando a mesma bateu à minha porta e atingiu a minha filha de apenas 13 anos. No início tratava-se apenas de uma restrição alimentar simples objetivando manter o corpo (que já era magro) em forma (pura vaidade). Com o passar dos dias fui percebendo que a quantidade de alimentação estava cada vez menor. Em dezembro do ano passado, após um desmaio, procurei por vários médicos (cardiologista, pediatra, neurologista, endocrinologista) e todos eles me disseram, com base nos exames que estava tudo bem. Mas ninguém me dava atenção quando eu dizia que ela comia muito pouco.

Em maio deste ano a nutricionista do CENTROCOR me alertou de que a minha filha estava desnutrida. Imediatamente entramos em contato com a pediatra que recomendou atividade física, comida e psicóloga. Duas semanas depois minha filha foi internada num hospital particular do município de Serra com um quadro de desnutrição, com IMC (Indice de Massa Corpórea) igual a 13. A internação ocorreu depois de muita insistência, pois apesar da menina mal conseguir andar, todos afirmavam que ela estava ótima, afinal seus exames laboratoriais assim o diziam. Nos nove dias de internação ficou claro que os profissionais do hospital não sabiam o que faziam. Insistiam apenas que ela tinha que se alimentar para melhorar e que se tratava de um problema de fundo psicológico. Não foi feita uma avaliação psicológica porque esta estava de férias e o psicólogo do hospital, apesar de ser acionado, não fez a avaliação. Tivemos que pagar profissionais externos para fazer a avaliação psicológica e psiquiátrica.

Esse relato, onde exponho minha intimidade e a de minha família servem para alertar aos pais quanto à alimentação dos filhos. Restrição alimentar ou dieta, como queiram chamar, somente com orientação profissional. Não podemos nos deixar levar pelos comerciais, pelas receitas caseiras ou pela “neura” de chegar a um “peso ideal” a qualquer custo. O custo pode ser alto. Pode ser a própria vida.

Chamo atenção às autoridades da área da saúde (pública e privada), pois os hospitais e os médicos de maneira geral (exceto os especialistas da área) não sabem identificar a doença e quando a mesma é identificada não sabem como agir. Se existe a piada de que médico quando não sabe o que temos diz que é virose, se ele souber que você tem anorexia nervosa, seus sintomas tornam-se “psicológicos” e nada é feito, pois quem cuida desses sintomas é o psiquiatra. Quando a anorexia nervosa será reconhecida como uma doença social dessa sociedade de consumo e do culto ao corpo magro? Quando os médicos aprenderão a olhar para os pacientes e seus familiares com menos preconceito? Quando entenderão que não comer deixou de ser uma escolha e passou a ser uma doença?

Como profissional da educação, insisto que a escola (que não é uma ilha, mas está inserida na sociedade), deve também estar atenta a estas questões, a fim de evitar casos de bullying e de qualquer forma de exclusão (que pode se dar através de um olhar, de uma palavra sem intenção de ferir, por exemplo).

A mídia impõe a tríade: ser bela, ser jovem, ser saudável. Hoje as mulheres querem ser magras, leves e turbinadas para se sentirem belas. Enquanto cidadã penso na loucura que é tentar encaixar-se num padrão de beleza que sequer existe. Quando nos deixarão ser felizes do jeito que somos? Quando teremos coragem de dar um fim à ditadura da magreza? Afinal, sabemos quanto custa não estar na forma? Já fez as contas, leitor?

Publicado no Jornal A Tribuna, de 05 de setembro de 2012, na coluna Tribuna Livre, com algumas adaptações para se adequar ao espaço da coluna.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Semana Pedagógica Serravix: A Importância das Atividades Complementares


Lívia Rissa Valasco Nunes
3º período Pedagogia Noturno – Faculdade Serravix

As atividades complementares são extremamente relevantes em um curso acadêmico. Considerando a área específica da Pedagogia que é propriamente humana, visando à formação de profissionais para trabalhar e lidar diretamente com pessoas torna-se fundamental a preparação para que se forme competências necessárias a esta atribuição nos estudantes dessa área.

Compreende-se então, partindo desse pressuposto a importância da semana pedagógica propiciada aos acadêmicos da Serravix, que ofereceu palestras e oficinas que fertilizaram conhecimentos e enriqueceram os saberes dos discentes. As palestras com seus temas atuais como violência na escola: desvelando relações de poder no cotidiano escolar, autoridade e autoritarismo: um diálogo conceitual acerca da hierarquia escolar, adolescentes e crianças em conflito com a lei e outros permitiram o acesso a conhecimentos para além dos conteúdos determinados pela ementa, com abrangência não somente teórica, mas também prática, através dos relatos e trocas de experiências. E as oficinas voltadas mais especificamente para a prática não se detiveram a informações, mas aguçaram a criatividade dos participantes.

Portanto, a semana pedagógica proporcionou aos acadêmicos, fazer um elo entre a teoria e a prática, desenvolver diversas capacidades, ter visão do campo e da atuação profissional, o que se considera necessário à formação de profissionais hábeis e competentes para assumirem o papel indispensável que possui um pedagogo na sociedade.

Que venham mais semanas pedagógicas!