segunda-feira, 12 de março de 2012

O fenômeno bullying nas escolas


Fabíola dos Santos Cerqueira
Mestre em Educação

O início deste ano letivo foi marcado pela tragédia envolvendo o adolescente Roliver que suicidou-se, a princípio, por não conseguir lidar com as constantes humilhações porque passava no ambiente escolar. Este fato traz à tona a discussão sobre o bullying e sobre a forma como a escola e seus profissionais trabalham, pedagogicamente, para prevenir esse tipo de violência, presente em todas as escolas.

O bullying tem em suas bases o preconceito: estético, religioso, homofóbico, racial, social, dentre outros. E é isso que precisamos combater: o preconceito. No jornal A Tribuna do dia 11 de março de 2012, o filósofo Mario Sérgio Cortella, afirmou, em entrevista, que os pais são os responsáveis por esse tipo de comportamento preconceituoso nas crianças. Isso é verdade, pois o preconceito é socialmente aprendido. Daí que o tratamento pedagógico da questão deva envolver as crianças, os professores e também as famílias.

A sociedade brasileira é estruturalmente violenta, embora isso seja negado e camuflado na ideia da passividade e da cordialidade do brasileiro, conforme aponta a filósofa Marilena Chauí. Romper com esta estrutura significa reconhecer a existência do mito da não-violência brasileira e encarar esse fenômeno social de frente. Significa partir do princípio de que somos, todos, preconceituosos, em alguma medida. Significa estar atentos às piadas preconceituosas e às brincadeiras que humilham. Significa pensar que para ser considerada brincadeira a ação precisa ser divertida para todos os envolvidos, senão ganha outra conotação.

E porque isto está tão latente nas escolas? Justamente porque são nas escolas que os diferentes precisam conviver. E essa convivência é conflituosa quando as diferenças não são respeitadas. E o conflito pode se resolver por meio do diálogo ou do confronto. Quando é resolvido por meio do diálogo há possibilidade  de desconstrução do preconceito. Quando se dá por meio do confronto, as violências estão presentes e aí é necessário estar atento (família e escola) e agir. Agir significa encarar a situação, envolvendo a vítima, o agressor, a plateia e suas famílias. Significa fazer compreender o direito do outro a ser respeitado na sua diferença.

Infelizmente identificar a situação de bullying nem sempre é fácil, pois é necessário um olhar atento ao outro e ao seu sofrimento. É necessário uma escuta qualificada e uma disposição em não banalizar e/ou negligenciar nenhum tipo de violência. Para isso, o educador precisa de formação e orientação, além de sensibilidade em relação ao outro. As famílias também precisam estar atentas e devem ser parceiras da escola, devem buscar seus profissionais sempre que perceberem mudanças de atitudes em seus filhos. Essas duas instituições devem caminhar juntas e se reconhecer como parceiras e não como adversárias. Devem enfrentar juntas esse grave problema.

Quando isso ocorrer deixaremos de ver tragédias como a que envolveu o Roliver estampadas nos jornais. Deixaremos de ver crianças, adolescentes e jovens sofrer por terem suas diferenças vistas e apontadas como defeitos. Desconstruiremos socialmente o preconceito e construiremos uma sociedade mais justa e igualitária que reconheça e valorize as diferenças.

Texto publicado no Jornal A Tribuna, em 11 de junho de 2012, na coluna Tribuna Livre.