quarta-feira, 24 de outubro de 2012

E quando a vítima é o professor?

Fabíola dos Santos Cerqueira
Mestre em Educação (PPGE/UFES)


Há algum tempo venho estudando a problemática da violência no contexto escolar, abordando-a na perspectiva do estudante, preocupada com as relações de poder existentes naquele espaço. No entanto, nunca perdi de vista que as relações entre estudantes e professores poderiam se dar de formas desiguais tanto tendo o professor como elo “superior” quanto o aluno. Ou seja, ao mesmo tempo em que presenciamos estudantes sendo vítimas de violência por parte de professores cujas posturas são autoritárias e inflexíveis, temos também professores sendo vítimas de estudantes que utilizam da coação, da ameaça e da intimidação.

O professor, quando desrespeitado no exercício de sua profissão sente-se só, sendo que, em alguns momentos, é visto como causador de sua própria dor. É importante termos em vista que a violência não pode ser analisada de forma unilateral. Há que avaliar todos os lados e garantir atendimento/acolhimento para todos os envolvidos, quer sejam alunos, quer sejam professores.

Não estou aqui querendo reforçar posturas de vitimização do magistério. Entendo e defendo que os direitos das crianças e adolescentes sejam sempre respeitados. Mas não posso naturalizar os processos de violência que têm atingido professores e professoras.
Defendemos que num primeiro momento, deve-se tentar o diálogo com o aluno e sua família, com a mediação do gestor da unidade de ensino. Caso as agressões persistam (ameaças, agressões físicas, desacato), o professor tem o direito de: a) se for criança (menores de 12 anos), comunicar imediatamente ao Conselho Tutelar e aos responsáveis legais pela criança; b) se for adolescente (entre 12 e 17 anos), comunicar ao Conselho Tutelar, aos responsáveis legais e lavrar Boletim de Ocorrência na DEACLE – Delegacia do Adolescente em Conflito com a Lei; c) se adulto (a partir dos 18 anos), deverá acionar a Polícia Militar e lavrar Boletim de Ocorrência.

Em casos envolvendo assédio moral, agressões físicas ou verbais, ou outras formas de violência entre educadores ou entre estes e a família dos alunos, orientamos que a denúncia seja protocolada junto à Secretaria de Educação (estadual ou municipal), aos cuidados da Gerência em que o servidor estiver vinculado. Isso não inviabiliza denúncia junto ao sindicato ao qual o servidor for filiado ou mesmo, dependendo da gravidade, que Boletim de Ocorrência seja lavrado. Por fim, é importante frisar que nas questões que envolvem atos indisciplinares ou infracionais, os profissionais devem levar em consideração, na intervenção e nos encaminhamentos, a legislação em vigor, inclusive, o Regimento Interno ou o Regimento Comum da rede a qual fazem parte.

É preciso que tomemos consciência da gravidade do problema e que tanto os órgãos de defesa dos direitos das crianças e adolescentes quanto os sindicatos e as secretarias de educação se proponham a enfrentar esse problema e a buscar estratégias para efetivar uma educação de qualidade, que pressupõe o respeito aos sujeitos que estão na escola para aprender e ensinar; que pressupõe a valorização do magistério e a imposição de limites entre a família e a escola que devem ser parceiras, mas não podem impor uma à outra suas responsabilidades; que pressupõe a construção de uma cultura de paz que não significa eliminar os conflitos, mas solucioná-los por meio do diálogo.

Artigo publicado no jornal A Tribunal, do dia 23 de outubro de 2012.

E assim é a vida?

Fabíola dos Santos Cerqueira

Minha noite tinha tudo para terminar perfeita, pois hoje comemoramos o aniversário de 80 anos da minha avó, mas infelizmente, vivi uma situação que jamais imaginei viver ao tentar ajudar uma pessoa no meio da rua.

Estava indo para a casa da minha avó e passei na casa da minha tia, em Barcelona (Serra), quando me deparei, na esquina, um homem caído no chão que por pouco eu não atropelo. Desviei o carro, parei em frente a casa da minha tia e liguei para 192.

A atendente queria saber o que a pessoa tinha. Eu disse que não sabia. Que ele estava caído no chão, inconsciente a princípio. Disse que havia parado o carro longe do corpo e ela queria que fosse lá sacudir o moço para ver se ele reagia.

Me passou a ligação para a "doutora" que insistia que eu mexesse no corpo. Disse que se fosse cachaça ela não podia fazer nada. Fui até o corpo e lá estava um policial conversando com o homem que já não estava mais na rua.

Quando a médica ouviu a voz dele disse "que pela voz ele estava bêbado". Perguntei então: "Se for bebida não se pode fazer nada por ele?" Ela disse que não. O policial disse a mesma coisa. Tirou ele da rua e disse para ele ficar na calçada até melhorar e poder ir embora. Eu falei sobre o perigo dele ficar caído no meio da rua e o policial disse que se ele fosse atropelado aí sim o SAMU poderia ser acionado. Neste momento eu chorei. Se eu tivesse atropelado aquele homem eu iria para a delegacia ao invés do aniversário da minha avó, mas ele ia receber os mínimos cuidados de que necessitava, pois estava com o rosto todo ferido. Perguntei ao policial: se não é questão de saúde? Se não é questão de polícia, é questão de quê? E ele disse que se eu conhecesse a família dele podia pedir que fossem buscá-lo.

A "doutora" que fez o atendimento por telefone não quis se identificar, embora a primeira pergunta que eles fazem quando atendem o telefone no SAMU é o nosso nome. Isso ocorreu ontem, 23/10/2012, por volta das 18:30h.

O moço que estava caído é morador antigo de Barcelona. Já está naturalizado que o final dele será trágico...ninguém mais se importa. Ninguém mais vê. Ele é invisível aos olhos da saúde, da polícia e dos moradores daquela região.

Saí dali arrasada, chorando muito de dó daquele pobre ser humano...

E fui comemorar os 80 anos de minha linda avó, como se nada tivesse acontecido...porque assim é a vida.