sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Muda Vitória?!


Fabíola dos Santos Cerqueira
Mestre em Educação

Diante do que foi publicado no jornal A Tribuna do dia 12 de dezembro de 2012, anunciando que a Câmara de Vereadores de Vitória aumentou em 25,19% o salário do prefeito, do vice e dos secretários municipais para o ano de 2013, só podemos acreditar que o lema de campanha do prefeito eleito está se consolidando. Esperamos que isso se reflita nos salários dos professores, pois a justificativa para o aumento é semelhante ao que temos vivenciado na educação, onde perdemos profissionais para outros municípios cuja remuneração é mais atraente.

Esperamos que o prefeito eleito seja tão sensível à educação quanto os vereadores foram em relação ao novo quadro de secretários do município, pois se queremos um alto escalão de qualidade (e isso perpassa pelo salário) como deixou transparecer, acreditamos que a EDUCAÇÃO DE QUALIDADE TAMBÉM DEVE PERPASSAR POR SALÁRIOS DIGNOS AOS PROFESSORES.

Anualmente a luta dos professores tem sido pela reposição da inflação e aumento real dos salários e a justificativa é a dificuldade financeira do município para honrar com os compromissos de campanha. Os professores fizeram greve na gestão Coser reivindicando melhores condições de trabalho. Iam às ruas protestar e mostrar à população as dificuldades encontradas nas escolas e também em relação à falta de professores. Víamos a publicação da nomeação dos profissionais e mesmo assim, as vagas não eram preenchidas, pois os salários não eram/são atraentes.

Mas bastou um indicativo de que havia dificuldade para montar a equipe de governo, tendo em vista a competição com as instituições privadas que pagam mais (isso também publicado em jornal A Tribuna), para que os vereadores se articulassem e aprovassem o aumento de salário do alto escalão.

Como profissional da educação meu sentimento é de indignação, pois a cada ano perco poder de compra, vejo a desvalorização do meu salário e o desrespeito com a minha categoria.

Que a mudança proclamada pelo prefeito eleito do município de Vitória, contemple a educação e seus profissionais. Que valorize nosso salário para que não haja mais falta de professores nesse município (onde uma vaga já foi tão cobiçada) por oferecer salários menores que dos outros municípios da Grande Vitória. Que os discursos sejam colocados em prática e que não se tornem apenas anestésicos para aplacar a indignação que sentimos diante do descaso com que os profissionais da educação tem sido tratados neste município.

Muda Vitória!!!

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

POR ONDE ANDA O VERDADEIRO ESPÍRITO DO NATAL?

Fabíola dos Santos Cerqueira
Mestre em Educação

O natal é uma data religiosa, onde celebramos o nascimento de Jesus Cristo. No entanto, as propagandas televisivas nos fazem esquecer o real sentido dessa data e nos levam a pensar nos presentes, nas mesas fartas, nas bebidas, enfim, nas festas que de religiosas não tem nada. A reunião familiar em torno da alegria do nascimento de Cristo fica escondida nos anseios por detrás das trocas de presentes, sobretudo, entre as crianças.

Sensibilizada com a campanha dos Correios, fui adotar algumas cartinhas e ao lê-las, fui percebendo que as crianças expunham apenas seu desejo de consumir produtos cada vez mais caros, como computadores, vídeos games, bicicletas, celulares, tablets, enfim, toda essa tecnologia que faz a alegria da criançada. Não havia menção ao sentido do Natal apenas apelo para que o Papai Noel, pudesse atender seus apelos consumistas.

A crença no bom velhinho (materialização do capitalismo), faz com que as pessoas se esqueçam do verdadeiro espírito de Natal e transformem este momento de reflexão e de oração em mais uma festa. As lojas ficam abarrotadas e os comerciais de TV nos fazem crer que esta data se processa da mesma forma em todas as famílias, que todas as crianças irão receber presentes, que todas as mesas são fartas. É difícil imaginar que ao mesmo tempo em que há mesas repletas de comida e bebida, existam tantas pessoas no mundo (e às vezes tão próximas de nós) desprovidas do básico para viver.

A televisão é um meio de comunicação que influencia os hábitos das crianças e, contribui, para a construção de necessidades, tanto dos pequenos, quanto dos adultos. Passamos a ver a felicidade do Natal atribuída à possibilidade de consumo. Na lógica neoliberal, aliás, cidadão é aquele que consome. Aqueles que não podem consumir, a partir dessa lógica, são colocados à margem, pois é o consumo que sustenta o capitalismo.

Como é difícil educar um filho neste mundo, onde a todo o instante o apelo do consumo, da cultura do ter, em detrimento do ser, se faz presente. Um mundo vazio de amor, de perdão, de solidariedade, mas repleto de ganância, de individualismo e de intolerância.

Com a proximidade do Natal percebemos também que as pessoas tornam-se mais sensíveis ao sofrimento alheio. É comum, nesta época, os orfanatos e asilos receberem muitas doações e visitas. Não sou contra às doações nem às visitas, mas penso que deveríamos ser sensíveis mais vezes ao ano. A solidariedade significa ruptura com a lógica neoliberal e a redistribuição das riquezas, com o intuito de diminuir as desigualdades sociais. Infelizmente, confundimos solidariedade com caridade e doamos o que nos sobra, mais como uma satisfação pessoal ou para expiar nossos pecados do que uma preocupação com o outro.

Hoje, escravos do tempo e da tecnologia (abolimos as correntes, mas somos monitorados pelo celular), não nos damos conta de que a vida é mais que acúmulo de bens materiais... é mais que trabalho, é mais que dinheiro. Quantos de nós cultivamos o hábito de ler para/com os filhos? Quantos de nós dedicamos parte do tempo para brincar com os filhos, contar piadas, olhar as estrelas, admirar o nascer e o por do sol?

Que neste Natal, além dos presentes e da ceia, haja espaço para agradecimento, perdão, amor, solidariedade, fé e reflexão.

Texto publicado no Jornal A Tribuna, na coluna Tribuna Livre, de 21 de dezembro de 2012.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

NOTA DE DESAGRAVO - PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA


Vimos a público lastimar o incidente ocorrido nas dependências do Museu Capixaba do Negro, na data de 05 de dezembro corrente, no momento em que se realizava o evento “Educar para a Igualdade Racial”, promovido pela Comissão de Estudos Afro-Brasileiros da Secretaria Municipal de Educação, quando fomos surpreendidos com a atitude desrespeitosa e inesperada de policiais militares adentrando o recinto do MUCANE e ameaçando a retirada de nossos alunos em situação de rua matriculados na modalidade de Educação de Jovens e Adultos, em função dos “perigos” que representavam pela aparência não convencional.

Temos atuado veementemente no combate a quaisquer formas de discriminação, preconceito e exclusão e tal fato manifesta o quanto nossas instituições precisam se constituir como defensoras e propagadoras da afirmação do direito e da cidadania para todos e para todas, sem distinção de classe social, cor, raça, religião e gênero.

Não cabe em um Estado de Direito atitudes que venham na contramão de nossas lutas e história em torno da garantia dos direitos políticos e sociais pois incidentes como este não só promovem a indignação da sociedade mas dizem muito o quanto faz-se necessário construir parâmetros públicos que balizem a nossa existência numa cidade e num Estado que se pretende democrático e presente na dinâmica da sociedade.

Vitória, 06 de dezembro de 2012.


Secretaria Municipal de Educação
Comissão de Estudos Afro-brasileiros
EMEF EJA “Admardo Serafim de Oliveira”
Secretaria Municipal de Cultura
Museu Capixaba do Negro
Secretaria Municipal de Cidadania e Direitos Humanos

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Estudantes em situação de rua impedidos de entrar no MUCANE-Museu do Negro por vigilante e PM

A EMEF EJA ADMARDO SERAFIM DE OLIVEIRA ESTÁ COM VERGONHA E PEDE DESCULPAS AOS SEUS ESTUDANTES EM SITUAÇÃO DE RUA

“Não é que eu vou fazer igual, eu vou fazer pior!” (Titãs)

Hoje nos sentimos envergonhados!Envergonhados por fazer parte de uma rede cujo parte considerável dos profissionais da educação sã...o tão racistas e classistas. Envergonhados com a repetição das práticas de racismo nos diferentes órgãos públicos de nosso Estado. Envergonhados por sermos servidores de um Município, que com a ajuda da Polícia Militar do Estado do Espírito Santo trata a população de rua a base de porrada, jato d'agua e sabão em pó. Sentimos vergonha de sermos munícipes de uma Capital em que negros e pobres não acessam os espaços públicos, pois são impedidos com práticas sutis, mas extremamente eficientes de frequentarem e permanecerem nas Unidades de Saúde, nos teatros, nas escolas, nas feiras , nas exposições, nos museus e outros.

E por falar dos museus, cabe destacar que nossa motivação na escrita deste texto foi justamente um fato ocorrido hoje, 05 de novembro de 2012, no Museu Capixaba do Negro. Fato este que explicitou o quanto ainda temos que lutar, em cada segundo e espaço de nossa vida, contra as diferentes formas de violência sofrida pelas camadas populares de nosso País.

Pela manhã, a EMEF EJA Admardo Serafim de Oliveira estava orgulhosa por ser selecionada para receber a Homenagem Olga Maria Borges. Para quem não sabe, esta importante homenagem é concedida pela Secretaria Municipal de Educação às Escolas que desenvolveram práticas de educação antirracista e que buscam em seu cotidiano implementar a Lei 10 639/2003.

Com dois anos de história, nossa Escola tem se dedicado em pautar nas suas práticas pedagógicas a necessidade de repensarmos nossas atitudes racistas, homofóbicas, sexistas e fundamentalmente classistas. Por este motivo é que esta homenagem representava algo muito importante para o coletivo docente e fundamentalmente para os nossos educandos.

Com o objetivo de socializar nosso trabalho e nossa alegria, confeccionamos uma “linda” instalação com trabalhos dos(as) educandos(as), com fotos, pinturas e esculturas. Ao entrar na instalação, qualquer pessoa perceberia uma vibração, resultante de um trabalho articulado e coletivo.

Para celebrar este resultado escolhemos duas turmas para visitação. A primeira composta majoritariamente por senhoras idosas, que estudam no CRAS de Andorinhas. A segunda composta por pessoas em situação de rua, estudantes matriculados que estudam no CREAS POP, localizado no Bairro Mario Cypreste.

Os estudantes chegaram ao espaço em carro oficial e acompanhados por professores da Escola. Após passarem pelas exposições, apenas os estudantes do CREAS POP foram abordados por dois policiais militares de forma violenta que afirmaram que os mesmos não poderiam permanecer no local. Ao perceber o que estava acontecendo, a Direção e demais profissionais da Escola foram até os policiais e indagaram acerca do ocorrido. Os mesmos informaram que receberam um chamado da vigilância do Museu e por isto resolveram “abordar” os possíveis “infratores”. Segundo o vigilante, os estudantes estavam descalços e olhavam de forma diferente para sua arma. Afirmou também que sua ação foi chamar a Guarda Municipal e que esta sim, chamou a Polícia Militar.

A posição da EMEF EJA Admardo foi imediata! Após demarcar publicamente nossa indignação caminhamos em marcha até o CREAS POP e lá a Direção da Unidade juntamente com os professores, pediu desculpas formais aos estudantes e reafirmando, que custe o que custar, nossa luta pela garantia dos direitos constitucionais vai continuar. Estaremos mais fortes do que nunca! Não faremos igual, faremos pior! Não descansaremos! Vamos marchar, nos mobilizar, denunciar e gritar para o mundo inteiro ouvir: TEMOS O DIREITO DE SER RESPEITADOS!

Sinceramente, o nó na garganta ainda não passou. Esperávamos uma pequena reação inicial por parte das pessoas, pois já passamos por situações constrangedoras em alguns espaços visitados com nossos estudantes. Porém, não imaginávamos que um episódio tão desrespeitoso pudesse acontecer em nossa casa. Nossa triplamente casa! Triplamente pois estávamos em um espaço público, em uma atividade da educação e no Museu do Negro.

Será que o Museu do Negro se relaciona com os negros que não são intelectuais ou militantes? Será que o Museu do Negro se identifica com a população de rua, majoritariamente negra? Não sabemos! Ou sabemos e não temos ainda coragem de dizer?

Finalizamos reafirmando nosso compromisso e disposição para a luta.

Com muita vergonha nos despedimos,


Carlos Fabian de Carvalho

Direção da EMEF EJA Admardo Serafim de Oliveira
Vitória, 05 de dezembro de 2012