sexta-feira, 19 de março de 2010

Juventudes e problemas sociais


Fabíola dos Santos Cerqueira
Rose Mary Fraga Pereira

Tem circulado na internet um e-mail no qual os benefícios sociais oferecidos pelo Governo Federal são colocados como privilégios concedidos aos pobres e as classes médias e elites aparecem como “palhaças” por sustentarem a população “esperta” que vive dos benefícios oferecidos pelo Estado. Este tipo de mensagem nos provoca porque é carregada de preconceito social e transfere para o individuo a responsabilidade pelas suas próprias mazelas. E há muita gente que apóia este tipo de mensagem e nem se dão conta de que a miséria é um problema social. Não se dão conta de que um programa como o Prouni, por exemplo, fez com que jovens das classes populares tivessem acesso a espaços, antes só ocupados pelas elites desse país. Este tipo de programa reascende a esperança e alimenta os sonhos dessa parcela da juventude.

O Brasil foi um dos últimos países a abolir a escravidão, a não fazer a tão esperada reforma agrária e a ter elevados índices de desigualdade social. Um país que viu a questão da escravidão se transformar em questão agrária. E esta hoje se transforma em questão urbana. Um país cujas políticas públicas são ineficientes, o índice de analfabetismo é alto, onde ainda há escolas públicas sem a menor condição estrutural, onde a educação não é prioridade, onde saúde pública é piada.

Diante disso, fomos motivadas a escrever sobre a relação entre juventudes e problemas sociais.

Diariamente, ao abrir os jornais ou ao assistir aos noticiários da TV nos deparamos com notícias de jovens sendo assassinados ou presos, sempre relacionando o fato ao uso de drogas. Estatísticas comprovam que os jovens são os que mais morrem no Brasil. Recentemente, outra situação que chama a atenção é o de familiares que acorrentam seus filhos adolescentes em casa para que os mesmos não possam sair para usar drogas. Temos a impressão de que os meios de comunicação trabalham com estas notícias, atribuindo apenas aos jovens e as suas respectivas famílias a responsabilidade por tais atos. Então, passa-se a idéia de que se esses jovens estão envolvidos na criminalidade é por uma escolha individual, assim como sair dessa situação também seria uma questão individual, de força de vontade e não de responsabilidade social.

Não percebemos uma responsabilização do poder público e uma cobrança da sociedade para que as políticas públicas de juventude abandonem seu caráter compensatório e assistencialista e passem a vigorar sob o paradigma da inclusão social. Diante disso, vêm os questionamentos: Onde estão as políticas públicas de juventude? Como são formuladas? Para quem são formuladas? Quem avalia essas políticas e com qual frequência?

Aliás, uma pergunta central seria: qual concepção de juventudes há por detrás das políticas públicas de juventude no Brasil? Pois, conforme aponta Oscar Leon, por trás de toda política se encontra uma idéia dos sujeitos a quem a política se destina, assim como dos problemas vivenciados por estes sujeitos; e dependerá dessa idéia o tipo de política que terá como resposta.

De acordo com a socióloga Dina Krauskopf, o paradigma que vincula juventude à problema social identifica as “patologias” juvenis aos próprios jovens e, portanto, as ações das políticas embasadas neste paradigma visam atingir aos jovens, ignorando o contexto. A ênfase no controle favorece a estigmatização da juventude, atrelando-a a aspectos negativos. Importante ainda ressaltar que o objetivo é proteger a sociedade dos problemas causados pelos jovens, sobretudo os das classes populares, já que estes estão vinculados à idéia de risco e transgressão. Os jovens ganham visibilidade, então, a partir do medo que sentimos deles. A nosso ver é esse paradigma que vigora, hoje, no Brasil.

Assim, a forma como se concebe as juventudes irá influenciar na forma de tratamento, de diálogo e de interação com este público. Políticas públicas que desejam promover a inclusão social devem ter como foco o jovem como sujeito de direito e respeitar as suas singularidades e o contexto no qual estão inseridos. O primeiro passo, talvez, fosse ouvir esses jovens e construir com eles (e não para eles) tais políticas.

2 comentários:

  1. quais os problemas da juventude de hoje?

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  2. Ei Dayane! A idéia deste texto foi desconstruir a idéia de que juventude é sinônimo de problema social (violência, gravidez na adolescência, drogas, entre outros). Muitas políticas públicas são construídas nesta perspectiva e isso, a meu ver, está equivocado. Penso que os gestores deveriam escutar mais os jovens a fim de compreender suas reais demandas.

    Grata pela participação.

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