sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

POR ONDE ANDA O VERDADEIRO ESPÍRITO DO NATAL?

Fabíola dos Santos Cerqueira
Mestre em Educação

O natal é uma data religiosa, onde celebramos o nascimento de Jesus Cristo. No entanto, as propagandas televisivas nos fazem esquecer o real sentido dessa data e nos levam a pensar nos presentes, nas mesas fartas, nas bebidas, enfim, nas festas que de religiosas não tem nada. A reunião familiar em torno da alegria do nascimento de Cristo fica escondida nos anseios por detrás das trocas de presentes, sobretudo, entre as crianças.

Sensibilizada com a campanha dos Correios, fui adotar algumas cartinhas e ao lê-las, fui percebendo que as crianças expunham apenas seu desejo de consumir produtos cada vez mais caros, como computadores, vídeos games, bicicletas, celulares, tablets, enfim, toda essa tecnologia que faz a alegria da criançada. Não havia menção ao sentido do Natal apenas apelo para que o Papai Noel, pudesse atender seus apelos consumistas.

A crença no bom velhinho (materialização do capitalismo), faz com que as pessoas se esqueçam do verdadeiro espírito de Natal e transformem este momento de reflexão e de oração em mais uma festa. As lojas ficam abarrotadas e os comerciais de TV nos fazem crer que esta data se processa da mesma forma em todas as famílias, que todas as crianças irão receber presentes, que todas as mesas são fartas. É difícil imaginar que ao mesmo tempo em que há mesas repletas de comida e bebida, existam tantas pessoas no mundo (e às vezes tão próximas de nós) desprovidas do básico para viver.

A televisão é um meio de comunicação que influencia os hábitos das crianças e, contribui, para a construção de necessidades, tanto dos pequenos, quanto dos adultos. Passamos a ver a felicidade do Natal atribuída à possibilidade de consumo. Na lógica neoliberal, aliás, cidadão é aquele que consome. Aqueles que não podem consumir, a partir dessa lógica, são colocados à margem, pois é o consumo que sustenta o capitalismo.

Como é difícil educar um filho neste mundo, onde a todo o instante o apelo do consumo, da cultura do ter, em detrimento do ser, se faz presente. Um mundo vazio de amor, de perdão, de solidariedade, mas repleto de ganância, de individualismo e de intolerância.

Com a proximidade do Natal percebemos também que as pessoas tornam-se mais sensíveis ao sofrimento alheio. É comum, nesta época, os orfanatos e asilos receberem muitas doações e visitas. Não sou contra às doações nem às visitas, mas penso que deveríamos ser sensíveis mais vezes ao ano. A solidariedade significa ruptura com a lógica neoliberal e a redistribuição das riquezas, com o intuito de diminuir as desigualdades sociais. Infelizmente, confundimos solidariedade com caridade e doamos o que nos sobra, mais como uma satisfação pessoal ou para expiar nossos pecados do que uma preocupação com o outro.

Hoje, escravos do tempo e da tecnologia (abolimos as correntes, mas somos monitorados pelo celular), não nos damos conta de que a vida é mais que acúmulo de bens materiais... é mais que trabalho, é mais que dinheiro. Quantos de nós cultivamos o hábito de ler para/com os filhos? Quantos de nós dedicamos parte do tempo para brincar com os filhos, contar piadas, olhar as estrelas, admirar o nascer e o por do sol?

Que neste Natal, além dos presentes e da ceia, haja espaço para agradecimento, perdão, amor, solidariedade, fé e reflexão.

Texto publicado no Jornal A Tribuna, na coluna Tribuna Livre, de 21 de dezembro de 2012.

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