Quando eu era criança sonhava em mudar o mundo. Achava que quando eu fosse adulta as coisas seriam mais fáceis de resolver como o problema da fome, da educação, da desigualdade social, por exemplo. Mas sempre me deparava com alguém que dizia que eu era mesmo uma sonhadora, que o mundo é desse jeito e pronto.
Mas eu insistia nos sonhos e aí veio a adolescência/juventude e eu com mais força ainda acreditava que seria possível transformar esse mundo cheio de violência, desamor e descrença num mundo melhor. Foi na juventude que me graduei e comecei a lecionar. E sempre dizia aos meus alunos, desde os pequenos (pois trabalhei com crianças pequenas) até os adolescentes/jovens/adultos/idosos de que seria possível mudar o mundo, pois “quando a gente muda o mundo muda com a gente” (Gabriel O Pensador). Mas sempre tinha alguém dizendo para mim que isso era besteira, que o mundo era desse jeito e pronto.
Meu maior medo era acreditar que o mundo era desse jeito e pronto.
Não sou mais jovem. Sou uma mulher adulta e começo a entender o que os adultos diziam com “o mundo é desse jeito e pronto”. Quando somos vítimas de violência (de qualquer tipo), de injustiça, de indiferença, de preconceito começamos a enxergar o mundo de outra forma. Podemos escolher continuar acreditando no sonho de mudança e sermos até ridicularizados ou embrutecer. Nenhuma das duas escolhas é fácil. Ambas trazem dores.
Ontem fui mais uma vez vítima de violência. Arrombaram meu carro dentro do estacionamento da Secretaria Municipal de Educação de Vitória e levaram o som do carro e todos os meus CD´s. Só deixaram os do Fabio Junior (o ladrão tem um gosto mais apurado, pois os de Maria Betania, Chico Buarque, Legião Urbana, Kid Abelha, Ana Carolina e outros foram levados...rsrsrsrs).
Cheguei em casa destroçada. Não pelos bens materiais, mas pelo fato da violência ter ocorrido no meu local de trabalho e pelas circunstâncias que não vem ao caso detalhar aqui. Meu maior medo era perder a fé no mundo e nas pessoas. Era acreditar que o mundo é desse jeito e pronto, pois foi isso que ouvi durante todo o dia. Ontem fui comigo, mas poderia ser com qualquer outra pessoa. Acontece a toda hora.
Eu estava chocada. Apenas eu. Naturalizou-se a ideia de que a violência faz parte do nosso cotidiano e que não há nada mais a fazer. Por que tenho um som no carro? Deixou sacolas à vista? Deixou CD´s no carro? Tava pedindo pra ser roubada. Precisa ficar mais esperta. E se o ladrão for adolescente a ideia de reduzir a maioridade penal vem à tona.
Comecei a ter medo dos meus medos. Comecei a ter medo de acreditar que o mundo é desse jeito e pronto. Será? Será que sempre estive errada? Será que sou mesmo uma sonhadora? Mas Eduardo Galeano, ao falar da utopia nos disse que ela serve para nos fazer caminhar e se eu não tiver sonhos, mesmo que utópicos, como vou seguir em frente?
Fabíola dos Santos Cerqueira
Vamos caminhar junto com nossos sonhos. Embrutecer jamais!
ResponderExcluirÉ isso aí, Nayra! Afinal, são os nossos sonhos que nos movem, não é mesmo? E embrutecer para mim, hoje, seria perder-se de mim mesma. Valeu!
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