segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Da infância à adultez: quando os sonhos morrem?

Quando eu era criança sonhava em mudar o mundo. Achava que quando eu fosse adulta as coisas seriam mais fáceis de resolver como o problema da fome, da educação, da desigualdade social, por exemplo. Mas sempre me deparava com alguém que dizia que eu era mesmo uma sonhadora, que o mundo é desse jeito e pronto.

Mas eu insistia nos sonhos e aí veio a adolescência/juventude e eu com mais força ainda acreditava que seria possível transformar esse mundo cheio de violência, desamor e descrença num mundo melhor. Foi na juventude que me graduei e comecei a lecionar. E sempre dizia aos meus alunos, desde os pequenos (pois trabalhei com crianças pequenas) até os adolescentes/jovens/adultos/idosos de que seria possível mudar o mundo, pois “quando a gente muda o mundo muda com a gente” (Gabriel O Pensador). Mas sempre tinha alguém dizendo para mim que isso era besteira, que o mundo era desse jeito e pronto.

Meu maior medo era acreditar que o mundo era desse jeito e pronto.

Não sou mais jovem. Sou uma mulher adulta e começo a entender o que os adultos diziam com “o mundo é desse jeito e pronto”. Quando somos vítimas de violência (de qualquer tipo), de injustiça, de indiferença, de preconceito começamos a enxergar o mundo de outra forma. Podemos escolher continuar acreditando no sonho de mudança e sermos até ridicularizados ou embrutecer. Nenhuma das duas escolhas é fácil. Ambas trazem dores.

Ontem fui mais uma vez vítima de violência. Arrombaram meu carro dentro do estacionamento da Secretaria Municipal de Educação de Vitória e levaram o som do carro e todos os meus CD´s. Só deixaram os do Fabio Junior (o ladrão tem um gosto mais apurado, pois os de Maria Betania, Chico Buarque, Legião Urbana, Kid Abelha, Ana Carolina e outros foram levados...rsrsrsrs).

Cheguei em casa destroçada. Não pelos bens materiais, mas pelo fato da violência ter ocorrido no meu local de trabalho e pelas circunstâncias que não vem ao caso detalhar aqui. Meu maior medo era perder a fé no mundo e nas pessoas. Era acreditar que o mundo é desse jeito e pronto, pois foi isso que ouvi durante todo o dia. Ontem fui comigo, mas poderia ser com qualquer outra pessoa. Acontece a toda hora.

Eu estava chocada. Apenas eu. Naturalizou-se a ideia de que a violência faz parte do nosso cotidiano e que não há nada mais a fazer. Por que tenho um som no carro? Deixou sacolas à vista? Deixou CD´s no carro? Tava pedindo pra ser roubada. Precisa ficar mais esperta. E se o ladrão for adolescente a ideia de reduzir a maioridade penal vem à tona.

Comecei a ter medo dos meus medos. Comecei a ter medo de acreditar que o mundo é desse jeito e pronto. Será? Será que sempre estive errada? Será que sou mesmo uma sonhadora? Mas Eduardo Galeano, ao falar da utopia nos disse que ela serve para nos fazer caminhar e se eu não tiver sonhos, mesmo que utópicos, como vou seguir em frente?

Fabíola dos Santos Cerqueira

2 comentários:

  1. Vamos caminhar junto com nossos sonhos. Embrutecer jamais!

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  2. É isso aí, Nayra! Afinal, são os nossos sonhos que nos movem, não é mesmo? E embrutecer para mim, hoje, seria perder-se de mim mesma. Valeu!

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