sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

A Sociologia no Ensino Médio: desafios e perspectivas


Fabíola dos Santos Cerqueira
E-mail: cso.especialista@yahoo.com.br

Entre os dias 11 e 18 de janeiro de 2013 aconteceu no campus da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), o IV CONECS (Conselho Nacional de Estudantes de Ciências Sociais). O evento contou com representação de estudantes de todas as regiões do Brasil. Uma das pautas do encontro foi o debate sobre a Sociologia no Ensino Médio. O objetivo era analisar os desafios que surgiram com o retorno da Sociologia no currículo do Ensino Médio, assim como as implicações para as universidades e para as escolas de Educação Básica. Isso porque ao longo dos anos, a partir do contexto político, social e econômico a Sociologia esteve presente ou ausente dos currículos escolares. Durante a ditadura militar, tivemos a substituição dessa disciplina por “Educação Moral e Cívica” e “Organização Social e Política do Brasil”, que tinham por interesse apenas “educar” a população a não enxergar os desmandos do regime autoritário.

A perspectiva atual é discutir em rede nacional “o que e como ensinar” Sociologia no Ensino Médio, envolvendo os sindicatos dos professores e universidades (que não podem se furtar dessa discussão). Não está em pauta ensinar ou não Sociologia. A obrigatoriedade da disciplina já é lei. Mas não dá para continuar admitindo que profissionais de outras áreas façam complementação pedagógica em apenas seis meses (à distância em alguns casos) e concorram com igualdade com quem fez a Licenciatura em Ciências Sociais ou Sociologia. Ou que Pedagogos e/ou Assistentes Sociais tenham prioridade em relação aos estudantes de Ciências Sociais/Sociologia.

Os currículos dos cursos de licenciatura em Ciências Sociais/Sociologia precisam ser reavaliados. A inclusão de disciplinas como Sociologia da Juventude e Sociologia da Escola são de extrema relevância para que o futuro professor compreenda o sujeito com o qual vai trabalhar no Ensino Médio e que tenha condições de refletir teoricamente a complexidade do que é a escola pública hoje. Outra questão que merece destaque é o estágio supervisionado que tem papel central na formação do docente, pois é através dele que o futuro professor poderá refletir sobre sua prática.

Por que não menos aulas de Matemática e Língua Portuguesa e mais aulas de Sociologia? Por que não Sociologia como disciplina obrigatória para quem faz vestibular para Ciências Sociais?

Queremos romper com a hegemonia. Queremos uma educação que valorize os conhecimentos historicamente acumulados e que haja equidade entre esses conhecimentos. Durante anos as Ciências Exatas são valorizadas e reconhecidas socialmente como mais importantes, mas ainda configura como justificativa para os maiores índices de reprovação escolar.

O cenário não é bom nem aqui nem em outros estados, mas vi jovens no IV CONECS com um brilho no olhar, com vontade de ser e fazer a diferença em nome da EDUCAÇÃO. Isso reascende a esperança de que um mundo melhor está sendo construído a cada dia. Após 10 anos de graduada consegui compreender neste evento o que Frei Betto disse no livro Sobre a Esperança (em diálogo com Mario Sergio Cortella), sobre a diferença entre o tempo pessoal e o tempo histórico. É possível que no meu tempo pessoal não consiga ver as mudanças que tanto sonho ver na educação. Mas aposto nesta nova geração e acredito que o futuro será melhor que o presente e me orgulho de poder fazer parte desse movimento de resistência contra a precarização da Educação e em especial do Ensino de Sociologia no Ensino Médio.

Texto publicado na Coluna Tribuna Livre, do Jornal A Tribuna, de 18 de janeiro de 2013, página 24.

6 comentários:

  1. VALEU FABIOLA, PRECISAMOS LUTAR POR ESTA CAUSA NOBRE. PARABENS PELO TEXTO.MUITO BOM. APROVADO COM ÊXITO PELA PLENÁRIA.

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  2. Obrigada Thiago Martins!
    Lúcia, aquela galera me fez um bem danado. A força da juventude nos impulsiona, nos faz vibrar e acreditar. Espero que possamos manter contato e das continuidade às lutas que estão apenas começando.

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  3. Adorei seu texto, Fabíola! Me fez sentir a mesma força que teve a sua fala no CONECS!

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  4. Muito bom o texto Fabíola! E sua fala no Conecs como a Maria disse acima, demonstrou força e nos deu 'gás', para nós lutarmos mais para legitimarmos nosso espaço.

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  5. Maria e Camila fico muito feliz que tenham gostado do texto, pois queria poder concretizar aquele momento no CONECS que acredito tenha sido importante para todos nós. A pubicação do texto num jornal de circulação regional é muito bom, pois vai fazer com que outras pessoas se agreguem à nossa luta. Mas precisamos ter em mente que não será fácil o diálogo nem com a universidade nem com as secretarias de educação. Por isso precisamos fortalecer nossos argumentos nos reunindo e dialogando pelos meios possíveis, inclusive as redes sociais. Fui aprovada no concurso da SEDU e voltarei a lecionar Sociologia como disse a vocês. Acredito muito nos jovens, nas suas potencialidades...daí gostar tanto de estar entre jovens (rs). A força da minha fala como vocês disseram veio da energia positiva que recebi...estávamos em sintonia! Obrigada.

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