Fabíola
dos Santos Cerqueira
Mestre em Educação (PPGE/UFES)
No
início do ano letivo foi divulgado pela imprensa o resultado de uma
pesquisa (questionários da Prova Brasil 2011) onde mais de 90% dos
professores entrevistados afirmavam que a causa do baixo desempenho
escolar era o desinteresse dos alunos. Associado ao desinteresse dos
alunos vinha a falta de acompanhamento familiar. Penso que a questão
não seja assim tão simples, pois precisamos estar atentos aos
problemas de aprendizagem e também aos de “ensinagem”, ou seja,
os alunos não aprendem por vários motivos e não somente por
desinteresse.
A
relação com a cultura, para as classes dominantes, segundo Pierre
Bourdieu, se dá através de um aprendizado precoce, desde a
infância, na própria família. Já para as classes dominadas esse
contato é feito tardiamente por inculcação escolar. Essa relação
tem implicações, de acordo com o autor, no desempenho escolar,
pois, quanto maior a relação de intimidade com as coisas da cultura
e da linguagem, maior será a incorporação da ação pedagógica.
Na perspectiva de Bourdieu, a escola é concebida como sendo uma
instituição a serviço da reprodução e da legitimação da
dominação exercida pelas classes dominantes. Conhecer essas
engrenagens nos permitiria romper com essa lógica.
Em
2011, coordenei uma pesquisa em uma escola pública da rede estadual
de ensino, no município de Serra, e alguns dados se destacaram: mais
de 50% dos professores tinham pós graduação (especialização e
mestrado), no entanto, em 2010, mais de 60% dos alunos do 1º ano do
Ensino Médio ficaram reprovados ou evadiram. Num grupo focal com os
alunos que haviam ficado reprovados em 2010 e que retornaram à
escola em 2011, constatei que alguns deles reprovaram porque não
queriam mesmo estudar. Faziam o que François Dubet chama de “greve”
(queriam estar na escola apenas para relacionar-se com seus pares).
Outros atribuíam à reprovação o fato de que ficavam desmotivados
com disciplinas como Física, Química e Matemática e a
impossibilidade de dependência fazia com que desanimassem de
estudar, já que a reprovação em uma disciplina significaria
repetir o ano. Assumiam sua parcela de responsabilidade, mas
apontavam situações em que ficava claro a falta de incentivo e de
aposta dos professores em relação aos alunos. Falavam muito na
percepção de que os professores já chegavam à sala de aula sem
ânimo para ensinar, o que fazia com que as aulas fossem entediantes.
Em
contrapartida, na conversa com os professores, o discurso legitimava
o resultado da pesquisa a qual nos referimos no início desse texto.
Nós, professores temos dificuldade em refletir sobre nossa prática
pedagógica e desconsideramos outros elementos que podem interferir
no processo de ensino. Enxergamos os alunos como únicos responsáveis
pelo fracasso escolar. Não nos damos conta de que esse fracasso não
é individual, mas demonstra o fracasso do processo de ensino.
Onde
está o “problema”? Na cultura de origem do aluno ou na cultura
escolar? É possível afirmar que os alunos das classes populares,
por possuírem capital cultural incompatível com o exigido pela
cultura escolar, não tenham cultura ou que não sejam capazes de
obter sucesso escolar? Por que não pensar que as pessoas são
diferentes, têm vivências e experiências diferentes, logo,
aprendem de formas singulares e em diferentes tempos e espaços? Qual
o sentido ou significado que os conteúdos ensinados têm para os
alunos das classes populares? São os mesmos sentidos ou significados
para os alunos das classes médias e elite?
Em
que sentido a formação do professor impacta o aprendizado do aluno?
Minha
experiência tem mostrado que há uma lacuna na formação inicial do
professor (que ainda espera encontrar na escola o aluno ideal) que
não está sendo preenchida pela formação em serviço e que tem
culminado no fracasso do ensino. Temos uma geração de analfabetos
funcionais, preparados para decodificar o código escrito, mas não
aptos para uma leitura política do mundo que os capacitaria para uma
intervenção cidadã na realidade a qual fazem parte. Logo, não se
trata de uma reflexão sobre o que sabem os alunos da escola pública
e o que sabem os alunos da escola particular. Trata-se de uma
reflexão sobre os objetivos do ensino: para a reprodução ou a
transformação social? E isso perpassa, inevitavelmente pela
formação do professor e pelas suas condições objetivas de
trabalho.
Texto publicado no Jornal A Tribuna, de 02 de abril de 2013, página 26, coluna Tribuna Livre.
Eu como aluna concordo com a colocação do desinteresse do aluno na escola, vamos analisar: passamos cerca de 5 horas no ambiente escolar (fora o tempo de trajeto, que as vezes é um pouco demorado) conforto enquanto estamos sentados em uma sala sem ventilação adequada e com cadeiras desconfortáveis, realmente o ãnimo nos falta, encontramos também a falta de diversidades nas aulas, sempre nas salas, sem uma aula ao ar livre, ou atividades sociais... são esses alguns exemplos que posso dar sobre o que me desanima.
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