sábado, 25 de abril de 2009

Poder e violência: uma análise do cotidiano escolar

De um modo geral, pode-se dizer que poder é a capacidade que alguém ou um grupo tem de promover a mudança de comportamento de outros, mesmo contra a sua vontade. Pode ser exercido através da coerção, no qual o detentor do poder faz uso da força ou ameaça usá-la para alcançar a obediência do subordinado. A imposição dessa força, não necessariamente é a força física, mas pode ser também uma força simbólica. Pode também ser exercido pela persuasão. Neste caso, o detentor do poder vai convencer o outro a obedecê-lo. O poder, segundo Michel Foucault, está diluído em todas as relações sociais, em todos os níveis e classes sociais.

No ambiente escolar, os corpos são “indesejados”, daí todo o esforço no processo de disciplinamento desses corpos. Nem sempre o poder exercido na escola será por meio da persuasão, do convencimento. Geralmente é exercido por meio da coerção e esta não pressupõe o uso apenas da força física, mas, em se tratando do ambiente escolar, da violência simbólica. É preciso que as crianças, adolescentes, jovens e adultos aprendam a se comportar, a respeitar as regras e normas impostas pela escola, mesmo que estas firam a sua própria identidade. Há um padrão de comportamento a ser seguido e os que não se enquadram nestes padrões, são excluídos.

Infelizmente existe no Brasil o mito da não-violência brasileira. Este mito nos impede de aprofundarmos a discussão em torno da violência, restringindo esse fenômeno à violência física, inclusive no ambiente escolar. A estrutura autoritária da sociedade e a divisão social sob a forma de privilégio e de carência contribuem para que o mito da não-violência brasileira permaneça. A sociedade brasileira ainda é marcada pelos traços da escravidão, sendo as relações sociais hierarquizadas, onde sempre há um que se coloca como superior e outro como inferior, em todos os âmbitos da vida, desde as relações familiares até as relações de trabalho.

Neste contexto observa-se que a escola tem um papel fundamental. Nela há espaço para ruptura ou reprodução dessa lógica, embora não se pode deixar de afirmar que as relações sociais na escola são também marcadas pelo autoritarismo. A estrutura física e pedagógica da escola colabora para o disciplinamento dos corpos. Portas e janelas gradeadas, área para a recreação controlada sempre por um adulto que está sempre pronto para registrar as ocorrências referentes à quebra das regras (estas nem sempre construídas pelo coletivo, mas impostas). Na escola também não há espaço para aprofundarmos o tema da violência. Esta, quando aparece é contra o professor. Nunca se admite que a escola também produz sua própria violência. Discute-se então a violência do “eles” contra “nós” também no espaço escolar. Espaço este que teria como papel fundamental romper com este mito que reserva aos mais pobres (o “eles”), o lugar perverso em nossa sociedade.

As relações de poder existentes no ambiente escolar manifestam-se, cotidianamente, através das relações conflituosas entre os sujeitos que ali convivem. A ausência de diálogo no ambiente relacional abre espaço para que os conflitos se instaurem. Estes são inerentes ao ser humano, porém, o que faz diferença é a forma com a qual lidamos com eles. Admitir que as violências estão presentes nas escolas e que estas, com suas estruturas rígidas e autoritárias, contribuem para a sua reprodução, seria dar o primeiro passo rumo à construção de uma cultura de paz, destituindo o mito da não-violência. Superar os desafios apresentados diante da diversidade que se apresenta em nossa sociedade e que se reflete em nossas escolas não é tarefa fácil. Mas, precisamos estar dispostos a nos despir dos preconceitos e incertezas para que as diferenças não se transformem em desigualdades.

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