terça-feira, 7 de julho de 2009

O que se fala, quando se cala?

Quando se pensa em gestão democrática logo vem em mente a idéia de construção coletiva, da participação e do envolvimento de diferentes sujeitos em prol de um ideal, de uma missão, de uma meta. Pois bem, falar de gestão democrática no ambiente escolar é abordar todas essas questões, mas também é nos despertar para as relações de poder ali existentes.

Historicamente podemos afirmar que não temos uma cultura de participação no Brasil. Não aprendemos a ouvir e não estamos acostumados a sermos escutados. O Brasil foi inventado por colonizadores que extraíram toda a nossa riqueza e massacraram a população nativa. Durante anos fomos vítimas da ditadura militar e somente a partir da promulgação da Constituição de 1988, vimos surgir diante de nós a possibilidade de usufruirmos de direitos civis, políticos e sociais. E isso se reflete nas nossas vidas e nas nossas escolas até hoje.

Ser aluno, na concepção dos próprios alunos está relacionado, a ser “passivo”, “obediente”, “soldado”, a não poder se expressar, a ser submisso, a não ter voz e vez no espaço escolar. Na concepção desses sujeitos, os professores são aqueles que mandam, os “donos da verdade”, portanto, não adianta questionar, debater, pois no final, são sempre eles quem tem razão. Aí só resta uma manifestação às avessas. Há uma resistência a determinadas aulas e/ou professores e isso se manifesta nas conversas excessivas, nas burlas às regras, no “eu finjo que aprendo e ele finge que dá aula”.

E ainda queremos entender porque a participação nos movimentos sociais é tão incipiente! Uma criança que não aprendeu, ou que não foi socializada num ambiente de diálogo e de participação, certamente terá dificuldade em exercitar essa escuta e mesmo de acreditar na força do coletivo. É como se nosso corpo se acomodasse, se moldasse às pressões externas e a partir daí, passamos a não mais nos incomodar com as questões sociais, com as questões que merecem ser pensadas no coletivo. Naturalizou-se entre nós a idéia de que “não há mais nada a fazer”. Não tem jeito mesmo, o mundo não vai mudar. Por que falar? De que adianta eu falar? Ninguém participa mesmo, ninguém está preocupado.

Na percepção dos professores, os “donos da verdade” são os alunos. Os que não lhes permitem dar aula, os indisciplinados, os que não querem aprender, os que não serão ninguém no futuro... de que futuro estamos falando? Ninguém... ninguém... de que ninguém estamos mesmo falando? Do embalador do supermercado? Do gari? Do servente? Estes (e outros mais de que não me lembro) são “ninguéns” ou são invisíveis? Por que nossos olhos insistem em não enxergar aqueles que não tem o mesmo nível de escolaridade que nós, que ganham menos, que moram nas periferias, que são negros, que são pobres, que são mulheres... por quê?

A sociabilidade no mundo contemporâneo sofreu modificações e o espaço público passa por desvalorização. Assim, os conselhos, por exemplo, que surgiram como conquista, na prática, são espaços onde a participação é mais formal do que real, onde há possibilidade para a cooptação de lideranças, para a participação forjada a fim de legitimar o que já está pronto, gerando uma retração para a vida privada e uma desvalorização da esfera pública.

Nessa luta de forças, professores e alunos buscam estratégias para sobreviver às turbulências do dia a dia, porém sem se dar conta da necessidade de problematizar essas estratégias no coletivo e de enfrentar as dificuldades a partir do diálogo, da escuta e do envolvimento com as questões coletivas, tanto na escola quanto na comunidade a qual fazem parte.

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