Fabíola dos Santos Cerqueira
A
sala de aula é um espaço pesquisado e analisado por muitos especialistas
da área educacional, no entanto, constitui-se como um local exclusivo de
professores e estudantes. Os conflitos, os encontros e desencontros que
ali ocorrem são momentos que marcam as vidas desses sujeitos de forma
singular, tanto positiva como negativamente. Proponho-me a falar das
marcas positivas que a sala de aula me proporciona. Espaço de construção
de conhecimento, de emoção, de partilha, de doação e de amizade.
Há os
que certamente me julgarão, pois não conseguem ver a “belezura” da sala
de aula. Não conseguem enxergar o brilho no olhar do educando diante de
uma nova experiência. Até porque muitos de nós, professores, endurecidos
pelas marcas do descaso do governo e da sociedade e pelo desrespeito de
alunos e seus familiares, sofremos com a síndrome de burnout, a qual
manifesta-se pelo esgotamento físico e emocional, levando muitos
profissionais a abandonar a carreira ou mesmo provocando depressão e,
consequentemente, afastamento do trabalho. Mesmo que simbolicamente,
muitos de nós têm desistido, daí a justificativa do número elevado de
licenças médicas e a não intervenção diante desse quadro, com atenção à
saúde do trabalhador em educação.
Mas
voltando às “belezuras” da sala de aula, gostaria de registrar que ser
professora, na minha perspectiva, significa, em última instância, uma
aposta no outro. Significa gostar de gente, conhecer a categoria
geracional com a qual trabalha, oportunizar ao educando o conhecimento
historicamente acumulado e respeitar a sua realidade sociocultural.
Lecionando
Sociologia no Ensino Médio, com apenas uma aula por semana, enfrentando
os desafios da dinâmica acelerada da escola, a agitação dos jovens e um
desejo enorme de “afundá-los” nos tais conhecimentos historicamente
acumulados, percebo que a resposta para uma aula melhor tem sido dada
por eles, na medida em que, sem que me dê conta, mudam o “rumo da prosa”
e trazem a reflexão sociológica para a realidade social a qual estão
vinculados. Fazem os links com as disciplinas das diferentes áreas e me
ensinam que a escuta qualificada é a melhor forma de construir um
planejamento que os atenda.
Diante
desse desafio tenho vivenciado experiências fantásticas, vendo jovens
desconstruindo preconceitos e se dispondo a enxergar o mundo a partir de
outro viés. Tenho presenciado jovens falando sobre política (apesar do
discurso insistente de que eles não gostam de política), falando sobre o
cotidiano e apontando, de forma enfática, quais são as suas
necessidades. Vejo jovens que não se negam a cumprir as regras (com as
devidas exceções), mas que as desejam justas. Vejo jovens com projetos
de futuro, com sonhos, mas que enfrentam um presente de negação,
sobretudo por parte da ausência de políticas públicas que promovam a
inclusão social.
Encontro
no exercício diário de minha profissão, a oportunidade de cumprir a
função social de educadora, participando do processo formativo de
cidadãos plenos, os quais refletem sobre a realidade a qual fazem parte e
tentam, a seu modo, resistir às estruturas arcaicas, sejam da escola,
sejam da sociedade. E é nesse movimento de resistência que se encontra a
maior de todas as belezas: a capacidade de reagir diante da opressão.
Enfim,
como dizia Paulo Freire, a escola é sim lugar para ser feliz. E ser
feliz, para mim, é perceber que os jovens, ao contrário dos discursos
pessimistas, vislumbram um futuro de mudança, mas exigem um presente com
respeito e dignidade. Por isso tudo é que afirmo que a sala de aula é o
espaço onde os conhecimentos são construídos e não repassados.
Novamente citando Freire, afirmo que no meu inacabamento, numa relação
dialógica com os estudantes, (re)construo-me a cada instante.