domingo, 15 de março de 2009

Juventudes e escola no Brasil

Para início de conversa, torna-se relevante expor o que entendemos por juventude, o que pressupõe romper com os discursos recorrentes que ora atribuem à juventude um caráter de irresponsabilidade, de problema, de risco e de vulnerabilidade; ora como fase intermediária entre a infância e a vida adulta, depositando no futuro todas as expectativas em relação aos jovens, em detrimento do presente (o jovem é um “vir a ser”). Há ainda uma tendência que identifica os jovens com uma visão romântica, associando-os à idéia de liberdade, de prazer ou ainda, às expressões culturais.

José Machado Pais (1996), autor português, afirma que “A juventude é uma categoria socialmente construída, formulada no contexto de particulares circunstâncias econômicas, sociais ou políticas; uma categoria sujeita, pois a modificar-se ao longo do tempo.”. Isso implica em afirmar que não há uma única forma de ser jovem. Daí falarmos em juventudes, no plural, com o intuito de identificar as diversas formas de se vivenciar os modos de ser jovem.

Importante também identificar a forma com que os jovens se relacionam entre si. E é neste contexto, de descobertas e novas emoções que os jovens começam a lidar com a questão da identidade. Tendo como base a idéia de que a identidade vai se constituir na interação social, os grupos de amigos, também no espaço escolar, ganham relevância, daí a importância de se discutir as relações que os jovens estabelecem com seus pares, no ambiente escolar. Os jovens tendem a se aglutinar para marcar a sua identificação com um grupo (criando seus “dialetos”, suas formas de vestir e se comportar) e também para se diferenciar dos adultos. É na formação dessas redes de sociabilidade que se formam as diferentes formas de ser jovem, que se diferenciam das diferentes formas de ser adulto.

A escola tem sofrido mudanças nas últimas décadas. A mais significativa, acredito ser a que diz respeito à massificação do ensino. Esta produz um fenômeno novo: a escola como espaço de diversidade e não mais de homogeneização. E a grande questão que se coloca é entender se a escola está preparada para trabalhar com a diversidade, uma vez que sempre esteve em contato com a padronização.

Com a massificação do ensino, houve uma significativa migração de alunos das classes médias e elite para a rede particular, fazendo com que a escola pública passasse a ser vista como “escola para pobre”. O próprio sentido do ensino médio passa a ser alterado. Para jovens das classes populares é a última etapa da escolarização.

Somado a isso é importante destacar a representação negativa e preconceituosa da juventude, sobretudo os jovens das classes populares, identificados como problema e vinculados à idéia de risco e violência, logo passando a ser vistos como problemas sociais.

A escola nega ao aluno a sua condição juvenil, ao desconsiderar a sua especificidade e tratá-lo de forma homogeneizante. A crise porque passa a escola pública hoje está de certa forma relacionada com a já referida massificação do ensino, apesar dos constantes esforços unilateriais em se atribuir a responsabilidade aos jovens, aos professores e à família. Para a escola e os seus profissionais o problema está centrado nos alunos que não têm limite e não têm interesse na educação, além de culpabilizarem também as famílias dos jovens. Quando a família que se apresenta na escola é diferente do modelo nuclear burguês, diz que as famílias são desestruturadas, transferindo para elas, inclusive, o fracasso escolar de seus filhos. A escola naturaliza essa postura e não se dispõe a discutir o porquê de fato os alunos não aprendem.

Assim, a instituição escolar que poderia contribuir para diminuir as desigualdades sociais acaba por reforçá-la quando, ignora as desigualdades sociais, econômicas e culturais entre os jovens das diferentes classes sociais.

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