sexta-feira, 6 de março de 2009

Violência institucional

Em se tratando da educação acredito ser relevante destacar que a profissão do magistério, majoritariamente, é exercida por mulheres. As professoras, em sua maioria, mas também os professores, através de denúncias e desabafos, vêm nos revelar as violências sofridas no ambiente de trabalho. Salários defasados, carga horária excessiva, pressão para aumentar a “produção”, salas superlotadas, além de todo o stress vivido pelas ameaças sofridas por alunos, pelas suas famílias e até pelo tráfico, além das relações interpessoais conflituosas e autoritárias. Angústia por não saber o que fazer diante da perda diária de alunos para o tráfico, angústia diante dos abusos cometidos pelas próprias famílias. Hoje somos reféns do medo. Essa é uma das facetas da violência contra a mulher. É uma violência (simbólica) a qual nós, mulheres trabalhadoras do magistério temos enfrentado, cotidianamente. Quem não resiste, adoece. E muitas de nós têm adoecido...

As crianças e jovens no Brasil também são submetidos, cotidianamente às violências. Digo violências, pois são muitas e de causas também plurais. Quando são excluídos dos programas sociais teoricamente criados para atender suas demandas ou mesmo quando não são ouvidos na formulação e avaliação de tais políticas públicas. Quando não aprendem, quando precisam estar no mercado de trabalho precocemente, quando são discriminados pela classe social, etnia, sexo, estética; quando não são atendidos nas unidades de saúde, quando são invisibilizados pela sociedade de consumo que só consegue vislumbrar quem tem poder de consumo. Quando são ignoradas e quando não há o reconhecimento de seu capital cultural. Quando as denúncias aos órgãos competentes são feitas e não há retorno... sensação de “abandono” que toma conta de cada um de nós!

A escola não é uma ilha. Ela está inclusa na sociedade e esta faz parte da escola. Logo, se partimos da idéia defendida por Marilena Chauí, de que a estrutura da sociedade brasileira é violenta, vamos, inevitavelmente afirmar que a estrutura da escola também o é. Precisamos então romper com o mito da não-violência brasileira se quisermos aprofundar o debate sobre a violência no Brasil. Precisamos romper com a lógica perversa que marginaliza os mais pobres. Flávia Schilling (2004), no livro, “A sociedade da insegurança e a violência na escola”, diz que: (...) É preciso polícia, justiça, moradia, trabalho, saúde, educação, meio ambiente, cultura, apoio às vítimas, tratamento dos agressores. Há intervenções que podem ser feitas a partir dos recursos próprios, dos recursos pessoais de cada um de nós. Há ações que só são possíveis a partir da construção de um coletivo, que exigem uma interlocução mais ampla.
Sendo assim, afirmo que a efetivação de uma cultura de paz nas escolas necessita não somente de profissionais bem intencionados, mas também valorizados, além da articulação de ações que dêem conta da complexidade que é a violência.

4 comentários:

  1. legal seu blog fabíola.
    vou acompanhar! sou marcus do CRJ!

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  2. "Nunca vi um texto tão bem escrito. Fabíola abordou, com concisão, e precisão, a maior das piores mazelas sociais: a violência, que segundo ela, já está institucionalizada. Ora, se isso for verdade, e eu já tenho acreditado, a Violência passa a moldar os padrões de comportamento e atitudes de nossas relações inter-humanas. Conclusão inevitável e muito triste.
    Pensando nisso e no que minha ex-professora disse sobre a escola, de que sua estrutura também é impregnada por essa doença social, eu pergunto: esta instituição, a escola, ainda é um lugar - se é que ela foi um dia -- ideal para a construção do espírito de nossas crianças? Se não o for, o que faremos daqui por diante?" (Professor Sleiman - Língua Portuguesa)

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  3. Oi,Fabiola
    você não me conhece, o seu blog foi repassada por minha amiga comum,a Ângela Bueno.Apreciei muito os seus escritos sobretudo esse de Violência Institucional, sou da área do trabalho e o tema educação e sociologia é bem amplo.Quero acompanhar o seu blog, sou Rachel Pessoa, assistente social com experiência no mundo do trabalho.

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  4. Seja bem vinda, Rachel! O blog está desatualizado, mas em breve teremos novidades. Obrigada por sua visita.

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